sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Quando o dinheiro grita mais alto

Postado por Ana Maria Rodrigues 30.11.12




O ano era 1824 e D. Pedro I era o cara. Literalmente. O Brasil tinha acabado de declarar sua independência e o contexto histórico-político desse ano era a elaboração da primeira Carta Magna brasileira que, após períodos conturbados durante sua produção, foi outorgada pelo imperador.

O fato de ter sido uma Constituição imposta por D. Pedro I reflete o autoritarismo que reinava na sociedade e que era reafirmado pelo próprio texto constitucional, afinal, o poder Moderador era a pura expressão da autoridade impositiva e por vezes ditatorial que interferia em cada aspecto da ex-colônia, desde a nomeação de funcionários públicos, párocos, até quais seriam os ditames do Vaticano aceitos pelo Brasil.

Em quase 200 anos, o Brasil mudou e evoluiu consideravelmente, deixou de ser uma monarquia e virou república, passou por décadas sob o poder da ditadura militar e depois se redemocratizou. Mesmo assim, um dos traços marcantes da sociedade brasileira de dois séculos atrás ainda perdura: o caráter elitista dessa sociedade valorizadora do poder econômico e de quem o detém.

A influência capitalista é tão incisiva que atinge praticamente todos os aspectos da vida social e o jornalismo não escapa desse alvo. Até porque quem produz jornalismo são empresas de comunicação que possuem interesses e ideologias próprias. Por mais que a “imparcialidade” e a “objetividade” sejam tão aclamadas, é praticamente impossível não deixar vestígios ideológicos em qualquer produto jornalístico, por mais objetivo que ele possa parecer.

E falando em poder econômico e uma (im)possível imparcialidade, como não lembrar o acidente de carro envolvendo o filho do ex-deputado Ciro Gomes e sobrinho do atual governador do Ceará, Cid Gomes? Desse caso podemos perceber duas coisas: a primeira é que a valorização de quem tem “dinheiro” proporciona a estas pessoas o pensamento de que são acima da lei e de qualquer autoridade e, por conta disso, podem tentar burlar essas leis por meio de suborno (mesmo que a quantia seja irrisória, o que vale é a intenção).

A segunda é o destaque (ou não) que foi dado ao fato em diversos portais da Internet. Desse ponto, deve ficar apenas a reflexão da abordagem que os veículos jornalísticos dão ao mesmo fato, abordagem essa estreitamente relacionada à ideologia e também ao grau de relacionamento da empresa de comunicação com os envolvidos em acontecimentos como esse. Tire suas conclusões.


quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Entrevista com Eliomar de Lima

Postado por Unknown 28.11.12

Eliomar de Lima / Foto: Internet

     Eliomar de Lima, cearense, radialista, jornalista formado pela Universidade Federal do Ceará (UFC), especialista em gestão da comunicação, eleito em 2012 um dos 30 cearenses mais influentes (revista Fale!) , colunista do Jornal O Povo, 29 anos de profissão e auto-intitulado um viciado em informação, está presente nas mais badaladas redes sociais e com uma boa quantia de leitores.

 Descobriu sua paixão pela comunicação ainda na adolescência, a partir do amor pelo rádio. Gostava de imitar locutores e de narrar futebol da periferia, tamanha a identificação com o gênero. Um erro ao marcar no cartão do vestibular a opção pelo curso, que segundo o desejo de seu pai seria Direito, selou o início de uma carreira de sucesso no Jornalismo que hoje completa 29 anos, dos quais 26 atua no Jornal O POVO.Estudou Comunicação na Universidade Federal do Ceará. Paralelamente, iniciou o curso de Letras na Universidade Estadual do Ceará, tendo abandonado após dois anos.

     Com tanta experiência não lhe faltam convites para que fique à frente de salas de aula, porém até hoje o jornalista não aceitou nenhum desses convites por conta de uma exigência pessoal. Para ele, ser professor universitário requer um título mínimo de mestrado, título esse que ainda não possui. Por conta disso ainda não ministrou aulas.

      Em relação a polêmica sobre a obrigatoriedade do diploma, disse que tê-lo não é garantia de emprego, dando como exemplo, colegas que têm o diploma de jornalista, mas que não teriam vocação para a profissão, erraram na escolha. Afirma, que profissionais de outras áreas podem colaborar com a comunicação, porém não são habilitados para exercer o jornalismo. “Eu não estudei medicina, portanto não posso fazer o trabalho de um médico. Eu posso fazer uma cobertura sobre o trabalho dele.”

     Ele, que manuseia um smartphone como poucos,  produz conteúdo para as diferentes plataformas em que atua. Antes desse advento da tecnologia, para fazer uma matéria, saíam um jornalista, um fotógrafo, um cinegrafista, vários profissionais distintos para produzir conteúdo para os diferentes veículos. Hoje, o jornalista tem muitas vezes que ser multimídia, ele faz a foto, grava o vídeo que ele mesmo pode editar e publicar. Opina que com isso a exigência em cima do profissional cresceu, “mas o principal não pode faltar, o talento e o amor pelo o que você vai fazer, se não tiver amor e não tiver talento, a tecnologia não vai adiantar”.

     Ao fazer uma análise sobre o cenário atual do jornalismo no Ceará, com mais ênfase em Fortaleza, destaca como problemas os poucos veículos de mídia e outro, a falta de educação. A população não tem a cultura de comprar o jornal, acaba achando caro o valor por um jornal, ou por uma assinatura anual. Na contramão disso vemos o grande número de rádios, pois até mesmo o custo de manutenção de uma rádio é bem inferior ao de um veículo de impresso ou TV, e para a população o acesso é quase gratuito, basta um aparelho que sintonize a freqüência. Mesmo assim ele destaca que o principal fator é a falta de educação, falta investimento como um todo nesse setor. Enquanto a educação não progredir o jornalismo não vai avançar, “o problema não é a falta de renda porque temos vários emergentes que compram uma Hillux, mas não compram um jornal.”
Ana Paula Oliveira , Luciana Castro , Eliomar de Lima
       

Entrevista concedida no dia 21/11/12 pelo jornalista Eliomar de Lima, para realização de um trabalho na disciplina de História do Jornalismo, da Universidade Federal do Ceará, ministrada pela professora Naiana Rodrigues. 


Por Luciana Castro
      Ana Paula Oliveira

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

2000 – A junção da moda de todas as décadas

Postado por Maria Isabella 19.11.12
Ao se fazer uma retrospectiva da história da moda, é fácil perceber que, em cada década, perdurou um estilo e um modo de viver característicos, o que muitas vezes era evidenciado pela maneira com as pessoas se vestiam. A moda, portanto, trazia à tona as características da sociedade que vivia aquele período histórico.

Os anos 30, por exemplo, foi uma época marcada pela crise econômica causada pela queda da bolsa de valores de New York, o que refletiu também na moda: as mulheres passaram a usar roupas de corte reto e cabelos mais compridos. Com o início da Segunda Guerra Mundial, na segunda parte dos anos 30, começou a surgir o estilo militar no vestuário feminino, no qual predominava a chamada cor ‘verde-militar’.

Com a chegada do novo século, o que parece é que surgiu o questionamento ‘ Porque não misturar as características de cada década em um só estilo?’. Os anos 2000, então, revolucionaram a moda ao juntar o ar feminino dos anos 50, o colorido que marcou os anos 60, a energia característica dos anos 70 e toda a ostentação dos anos 80. O novo século foi marcado por um mix de tendências atemporais, que marcava a permanência da pós-modernidade.

Nos anos 2000, o que passou a predominar nas vestimentas foi a personalidade, o que se caracterizou em uma enorme conquista, já que agora a sociedade passou a visar mais o ‘gosto’, e não mais o que era ditado como certo ou errado. O paradigma de que o estilo romântico não se misturava com o ‘rock style’ foi quebrado. A partir dos anos 2000, a moda passou a viver a era da diversidade.

Crônica de uma revolução pronunciada

Postado por Litα 19.11.12
O presente texto carrega em si o teor dos estudos do professor do Departamento de Sociologia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Marcelo Ridenti, que analisa as relações de política e cultura dos anos 60 e 70, recorrendo-se a noção de “estruturas de sentimento” de Raymond Williams. A efervescência cultural trazida pela conversa íntima entre arte e política faz surgir o Cinema Novo, o Teatro Arena, os Centros de Culturas da UNE (União Nacional dos Estudantes) e o movimento de músicas engajadas da MPB. O Ceará foi campo de florescimento do Pessoal do Ceará, movimento de jovens pela luta da liberdade. Seria piegas afirmar que a produção artística do Pessoal fora apenas de engajamento contra o regime da ditadura militar, mas a falta de expressão e as mazelas deixadas por um regime totalitário eram encalços para as críticas metafóricas e diluídas das canções de sujeitos como Belchior, Fagner e Ednardo. Eternizadas na MPB por festivais e grandes interpretes como Elis Regina, as músicas dos jovens despenteados carregavam a pureza matutina, os arranjos rock and roll liquidificados juntos com sons regionais na geleia da música setentista. Junto com tudo isto, o tempero do tempo, da revolta, da melancolia e do otimismo irônico existencial. É a narração perfeita da época e dos sentimentos da juventude como um todo. Jaz atemporal!
Nossa alucinação continua sendo suportar o dia-a-dia, muitos de nossos ídolos ainda são os mesmo e as aparências não enganam não.

P.S.: Trata-se de uma ficção trans-histórica. Síntese tímida que não representa sequer uma vírgula de todas as páginas, não converge apenas no movimento do Pessoal do Ceará, mas em todo o ideário dos jovens à época.

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Foto: Amelinha, álbum Janelas do Brasil.
No centro, hasteamos a bandeira do Vietnã em plena Praça do Ferreira, saltávamos de esquina em esquina panfletando e fugindo dos guardas. Reuníamos-nos em bares, na faculdade de arquitetura ou na casa de Edie¹. Esperávamos ativamente os discos de Chico, Caetano e Gil, eram como cartas com notícias do movimento lá no Sul, fazendo também parte do nosso caldo cultural. Se eles lá tinham a garota de Ipanema, cá tínhamos as garotas com síndrome de Iracema.

Gostávamos de passear de bicicleta pela praia bebendo Gim e vinho barato. Mixávamos linguagens, sons, pensamentos, cada qual trazendo em suas mochilas referências individuais. Mas tínhamos o mesmo desejo de Igualitê, fraternitê e libertê. Púnhamos à júbilo, no riso triste da alegria à prova de balas. Evocávamos o suor de Maria Rosa, as velas do Mucuripe, o forte, a praia, a nossa cidade, o centauro Fru Fru, o Pageú, o farol velho, o novo e o Pirambu. Evoé à padaria, ao pão, ao padeiro e ao caju.

Eles venceram e o sinal está fechado pra nós que somos jovens. - Alertava-me Bel², pessimista, sobre os perigos da cidade. O conheci já em 1973, o dedo em V; cabelo ao vento; Teti... ah Teti era ouro, ouro em pó que reluz. Nosso amigo Fagner respondia sempre aos que batiam à porta: - “Aqui não acontece nada, não. Nada.Nada, nada, nada. Absolutamente nada”. E eu me ria, e era apenas com sorriso que Edie me respondia. Na praia, luzindo na madrugada, braços e corpos suados, falávamos de amor. Não posso esquecer-me de Amelinha, mulher bonita e carinhosa, bem-querer de Rodger. Todos célebres líricos, únicos. Eram muitos, mais do que se pensa; muito menos do que o necessário para lançar o grito que toda nação precisava ouvir. Lá no CÉU³ discutíamos o anti-arrocho e as greves. Dali nós íamos pro Prequé da Tupi, sabe onde é o Prequé? Naquela rua que sai em frente ao Conservatório e era alí o Bar Tupí. Caminhávamos até o Balão Vermelho, na Duque de Caxias embaixo do Jalcy. Depois descíamos à beira-mar, entre luzes nos escondíamos e nos perdíamos uns dos outros. Eu ficava lá para ver a lua cheia e guarda-la na memória, assim tentava esquecer-me da verdade que eu preferia nem ver. A voz já rouca não gritava mais nada. Adiante, alguns retornavam à Praça do Ferreira, tecer conversas intelectuais com os comunistas ou conversar sobre o futebol e visitar os cabarés das francesas de Recife.

Cantávamos por todo canto, porque cantar parecia com não morrer, viver, uma vida com razão. Não éramos bons vivants de classe-média, nem inconsequentes. Nossa arte era política e nossa política era a liberdade. Queríamos mesmo era que nosso canto torto cortasse feito carne a política vencida dos coronéis “cesistas” e “adautistas”.

Alguns jovens tinham aulas de defesa pessoal e artes marciais no DCE da UFC. Alguns dos meus foram quase presos jogando uma bomba no IBEU. Na Química e na Física os companheiros produziam bombas molotov e o rasga lata fazia um barulho ensurdecedor, em reação a polícia jogava gás lacrimogêneo e agredia a todos. Cada vez evoluía mais dentro de nós a revolta e a melancolia e mais ofensiva era a polícia; centenas de companheiros já presos, torturados e mortos. Fausto Nilo havia sido preso no congresso da UNE em Ibiúna-SP. Rodger ficou preso durante nove dias por ter mimeografado um panfleto do movimento estudantil. Aumentava assim nossa agressividade nos versos, nas canções e nas ruas.

Por volta de 70 recebi um telefonema de Nilo, que estava no Rio de Janeiro se bem me lembro, dizendo: - “Oi, coração. Não dá pra falar muito não, a coisa aqui tá preta, mas sigo cantando e chorando.”. Anunciava também a morte de Tito, o frei que havia sido preso com ele e mais centenas de milhares de estudantes no congresso da UNE. O desespero nos batia à pele e, além disso, muitos do Pessoal estavam deixando Fortaleza, tomados por desesperança. Mas nós sabíamos, dentro do peito; eles são muitos, mas não podem voar.

A ditadura tornou-se insustentável, naquela política desenvolvimentista as pessoas eram renegadas. Desempregados, salário mau pago, crescimento de favelas, perseguições, salas frias de torturas e uma cultura imposta. Jornalistas, cantores, pintores, intelectuais eram presos e a carnificina apodrecia o país. A partir do momento que a ditadura começou a afetar burgueses e a classe empresarial, além de matar e trucidar filhos da elite, ela desmoronou-se. As lutas políticas, sociais, esquerdistas e, sobretudo o afloramento artístico que ocorreu no Brasil a partir de 60 e nos anos 70 foram mais que significativos e elementares para a queda do regime ditatorial em 85. O sumo deixado é adoçado sempre e sempre pela juventude que nunca deixa de ser revolucionária por essência.

1- Edie - Ednardo.
2- Bel - Belchior
3- CÉU - Clube do Estudante Universitário

 
 
 
 
 
 
                                           Texto: Thalita Moura Vieira.
 
 
 

Tom Zé e seu lixo lógico tropicalista

Postado por Eduardo Oliveira 19.11.12

Antônio José Santana Martins, o Tom Zé, sempre gostou de explicar para confundir (como reitera em Tô, do icônico Estudando o Samba). Portanto, ainda que seja um de seus trabalhos mais acessíveis e facilmente digeríveis, Tropicália Lixo Lógico, 14º álbum de estúdio de sua carreira, carrega certa carga teórica que remete a seus trabalhos mais célebres e densos. Tom não perdeu a ousadia que sempre lhe fora característica.

Lançado em agosto de 2012 (Independente), Tropicália Lixo Lógico não foge à regra de seus álbuns anteriores e é um disco que possui uma sonoridade inspirada em diversos estilos musicais, como o baião, o forró, o samba e o rock, o qual reina em Não Tenha Ódio do Verão: “Não tenha ódio no verão/ Você vai acabar comendo brasa no tição/ Assando o rabo no fogão/Isso arrebenta uma nação!” berra o músico entre guitarras nervosas.

Para compor o disco e explicar – à sua maneira, claro – as raízes do Tropicalismo, Tom recorre a fundamentos filosóficos e históricos, demonstrando riqueza intelectual e nos fazendo refletir a cada nova audição. Por exemplo: segundo o músico, o movimento da Tropicália vem do chamado “lixo lógico”, que seria um material cerebral originado a partir do momento em que os nascidos no interior do Nordeste (assim como ele) entram em contato com a cultura ocidental e com o pensamento aristotélico, já que o raciocínio mouro, nativo, de origem oriental, era a única referência formadora de suas ideias.

O baiano explica-confunde, propondo que Gil, Caetano e os tropicalistas foram expostos, na escola, às bases do pensamento ocidental e aos alicerces racionalistas aos 6, 7 anos - estágio do conhecimento infantil quando se aprende com maior intensidade - criando um material que deixaria o córtex cerebral e se alojaria no hipotálamo. Mais tarde, ao perceberem que um mar de inovações se aproximava e a MPB precisava abraçar a modernidade, o lixo lógico deixou o hipotálamo e reinvadiu o córtex, criando esse misto de tradições e culturas. Unindo, de vez, a herança dos árabes à cultura pop ocidental.

Complicado, não? E fascinante.


Mas não é só de carga teórica excessiva que se sustenta o disco. Tom divide vocais com Mallu Magalhães na singela O Motobói e Maria Clara: “Clara Maria sonha di comprá/ Na primeira liquidação/ Os eletros/ Nosso fogão”, cantam os músicos ilustrando a história de um motobói e sua amada. Participam do disco, ainda, o rapper Emicida (Apocalipsom A), Pélico (De-De-Dei Xá-Xá-Xá), Rodrigo Amarante (NYC Subway Poetry Department) e Mallu, outra vez, na intrigante Tropicalea Jacta Est.

Mesmo após 50 anos de carreira, o baiano que fez parte do grupo de músicos que criou o álbum Tropicália ou Panis et Circensis (1968) - marco definitivo do tropicalismo musical brasileiro - de Todos os Olhos (1973) e de Estudando o Samba (1976) consegue, mais uma vez, se restabelecer no cenário musical brasileiro como um dos mais experimentais e inovadores artistas. Seu raciocínio sempre será considerado bizarro e exagerado por alguns, mas verdade seja dita: mesmo com seu complexo de épico, não há ninguém como Tom Zé. E vão ser sérios assim no inferno!

Caminhando e cantando e seguindo a canção

Postado por Unknown 19.11.12

Como resposta ao período ditatorial em que o Brasil se encontrava nos anos 60, o Movimento Tropicalista acreditava que o socialismo seria a melhor saída para acabar com as barbaridades cometidas pele regime vigente na época. 

Intelectuais e artistas, principalmente baianos, se juntaram e protestaram como podiam. A música foi o melhor jeito de expressar toda essa revolta e a tão famosa canção "Pra não dizer que não falei das flores", que repercutiu em todo o país, tornando-se hino de vários protestos, é a prova de que esse sentimento estava presente em todos os brasileiros. 

O Brasil nunca teve de fato um revolução mas, a Tropicália foi um manisfesto que fez toda a população vibrar e lutar contra uma ditadura cruel que ainda hoje é lembrada pelo medo que espalhou pelo país. Mas, se essa revolução tivesse acontecido, como estaríamos hoje? Será que seriamos uma prisão disfarçada de paraíso como Cuba? Pode ser que uma revolução como manda as regras, nós não tenhamos,mas, tivemos sim uma revolução na postura da população, uma revolução cultural brasileira.

"se tivéssemos, talvez, chegado ao socialismo [nos anos 60] não me interessa saber o que o socialismo faria do Brasil mas, o que o Brasil faria do socialismo"  Caetano Veloso.

Revolução ou Movimentos Sociais?

Postado por Unknown 19.11.12

Aconteceu, na quarta-feira passada, dia 14, no Centro Dragão do Mar, o seminário “Nós que amávamos tanto a revolução”. Na noite, o doutor em Sociologia Marcelo Ridenti falou sobre os ideais de revolução na década de 60, baseados em seu livro “Brasilidade Revolucionária”.

De acordo com Ridenti, não ocorreu, no Brasil, a revolução no sentido sintético e radical da palavra. O substantivo revolução não possui apenas um significado, é muito mais complexo. Isso acontece porque as experiências históricas intituladas revolucionárias não alcançaram o objetivo pré-estabelecido.

A corrente marxista defende que apenas é possível haver a revolução se as bases fundamentais que sustentam uma sociedade mudarem por completo. Para Marx, uma sociedade jamais desaparece até que todas as suas áreas estejam desenvolvidas. Dessa forma, pode-se perceber que, se as relações de trabalho, a hierarquia social, as práticas econômicas ou hábitos cotidianos continuam os mesmos depois de uma transformação histórica, elimina-se a possibilidade de uma revolução.

Os anos de 1960 a 1980 estão no coração do processo de urbanização do País. Existia a vontade de mudar a sociedade brasileira, revolucionar, pois, para a população em geral, a atual estrutura socioeconômica da época não valia mais. As lutas uniam as forças que queriam o progresso contra o atraso.

Com passar dos anos, a “revoluções” que vieram ao longo do tempo – revolução de 64, de comportamento e práticas políticas, Guerra Fria, etc – mostraram as divergências que existiam entre as pessoas. No entanto, mesmo depois do Golpe Militar de 68, quando é decretado o Ato Institucional Número 5 (AI-5), parte da sociedade ainda acreditava que era possível mudar o mundo.

Abaixo está um clipe da música A Banda, de 1966, composta e interpretada pelo músico brasileiro Chico Buarque - um dos artistas mais ativos na crítica política e na luta pela democratização do Brasil. A música conta um episódio de uma banda musical que desperta a alegria da "gente sofrida" de uma cidade descrita por Chico ao longo da canção. 

Chico Buarque - A Banda (Festival da Record, 1967).

Revolução: uma palavra, vários contextos

Postado por Unknown 19.11.12

De acordo com Gabriel Perissé, professor e escritor, “A palavra revolução vem do latim revolutio, que remete ao ato de trazer à tona o que está embaixo, de girar, remover, transformar”.  Palavra marcada genuinamente pelo seu poder simbólico, o vocábulo REVOLUÇÃO traz consigo toda a força produtora de transformações radicais e efetivas em diferentes tipos de estruturas. Essa mesma palavra perpassa ao longo da História interferindo, em diferentes formas, na vida de todos os envolvidos direta ou indiretamente.

Ela é responsável por alterações nos mais distintos segmentos, seja na economia, na politica, no social, no cultural, na tecnologia, exercendo significativa influencia nas mudanças praticadas por aqueles, que mergulhados no sentimento revolucionário, a utiliza em nome de um ideal maior: a busca por um novo cenário que supere o atual.

                Mesmo possuindo uma essência de mudança a pluralidade em seu sentido encontra-se nas diversas formas de apropriação desse substantivo. Podemos perceber facilmente através de uma breve pesquisa do percurso histórico humano essas apropriações: a Revolução Francesa, a Revolução Industrial, a Revolução Russa, a Revolução Cubana são exemplos de acontecimentos que apresentaram alterações de suma importância não apenas para a época, assim como desempenharam relevante papel para sociedades posteriores, onde cada uma sendo analisada com seu contexto deixam claras as modificações existentes antes e depois da manifestação.

                No Brasil uma de suas apropriações do substantivo REVOLUÇÃO esteve presente nos anos 60, mas especificamente no movimento de 1964, marcado por uma disputa ideológica e politica, essencialmente uma defesa contra a onda comunista que se espalhava pelo mundo, afirmação defendida pelos militares e proprietários. Esse movimento acabou resultando em profundas transformações culturais, comportamentais e politicas.

                Assim percebemos que REVOLUÇÃO ganha o sentido dependendo onde esta inserido o que traz a tona um questionamento: é possível perceber essa natureza revolucionária na atualidade? Essa busca por mudanças radicais faz parte do imaginário dos nossos contemporâneos?

“Toda a revolução foi primeiro uma idéia na mente de uma pessoa.”
(Ralph Waldo Emerson)

Arte, uma forma de revolução

Postado por Unknown 19.11.12


Revolução. Logo vem à mente tanques, pessoas nas ruas e cartazes levantados. O que falar sobre revolução, em uma época no qual, em sua maioria, a geração é pacífica e conformada? Talvez o pessoal da década de 60 possa explicar melhor como era viver nesse clima de rebelião, de luta contra o sistema, de luta por aquilo que se acredita.

Talvez o termo revolução, e o seu próprio significado na década de 60, pôde ser melhor entendido após o seminário "Ideia de revolução: os anos 60", ministrado pelo professor da Unicamp Dr. Marcelo Ridenti no Auditório do Dragão do Mar - lembrando que o seminário faz parte da programação do ciclo temático de novembro do Dragão do Mar, intitulado "Nós que amávamos tanto a revolução".

Entender o clima de tensão daquela época pode ser difícil para a galera de hoje, que não sofreu com a ditadura, e que vive na tão dita e almejada democracia. Mas pensar sobre aquela época talvez faça refletir sobre os métodos de protesto utilizados. Não com pessoas nas ruas. Não em embates entre polícia e civis. Mas aqueles que não podem ser facilmente percebidos.

Uma das melhores formas de protestar, talvez, são aquelas no qual a crítica não é facilmente captada. Onde as palavras de protesto estão escondidas nas menores nuances. Que o diga Chico Buarque, Caetano Veloso e o movimento do Tropicalismo. Um exemplo dessa forma de protesto pode ser percebida na música "Cálice", de Chico Buarque, onde o título da música pode ser facilmente entendida como "Cale-se".

Mas não era só a música que tinha seus ares de protesto e de rebelde naquela época. A literatura, a poesia, o teatro foram, e são, formas vivas de protesto.

Hoje, podemos não lutar de forma tão veemente quanto nossos pais, mas ainda podemos fazer revolução através da arte. Através do rap, do grafite, da dança e, por que não, da boa e velha música.

Balaio de ideias

Postado por Naia 19.11.12
Turma de História do Jornalismo 2012.2, da UFC/ Foto: Márcia Catunda


Para quem almeja ser jornalista, uma das primeiras lições, depois de aprender o que é lide e pirâmide invertida, é que não se faz bom jornalismo sem contextualização. E foi em busca de causas e consequências que a turma de História do Jornalismo 2012.2, da Universidade Federal do Ceará, acompanhou a palestra "Ideia da Revolução: os anos 1960", na quarta-feira, dia 14 de novembro, no Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, parte da programação do ciclo temático "Nós que amávamos tanto a revolução". 

Para esses meninos e meninas, a revolução, como bem colocou o palestrante, professor de Sociologia da Unicamp, Marcelo Ridenti, era apenas uma ideia. Eles conhecem as revoluções pelas mediações da TV, dos livros, das músicas e das discussões em sala de aula, mas isso não os impossibilita de pensar os sentidos das transformações políticas e culturais pelas quais passamos. 

E foi exatamente o que esses aspirantes a jornalistas fizeram nas postagens aqui publicadas. Não se tratam de reportagens ou de textos acadêmicos, mas de elocubrações, questionamentos, incômodos, medos expostos, gostos expressos, leituras transpostas, enfim, livres argumentações sobre a palestra em si e as ideias que esta suscitou nas mentes jovens desses estudantes. 

Desconsiderem as vírgulas foras de lugar, os erros de concordância que, por ventura, aparecerem durante o percurso de leitura. Mas considerem, sobretudo, o esforço intelectual e as conexões entre a história recente de nosso país, a indústria cultural, a arte e a própria trajetória desses estudantes, que, um dia, podem vir a revolucionar o mundo por meio das palavras.

Boa leitura!   


Naiana Rodrigues
professora de História do Jornalismo da UFC







A postos para o seu general, mil faces de um homem leal

Postado por Bruno Melgacio 19.11.12

O seminário "A Ideia de Revolução", ocorrido no dia 14 de novembro no auditório do Dragão do Mar, lembrou os marcos políticos ocorridos no periodo da ditadura militar e principalmente as revoluções a partir da década de 60.

O seminário serviu meio que de abertura para a semana Marighella, em que o Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura promoverá uma série de atividades em homenagem a esse personagem da resistência brasileira.

Carlos Marighella foi um simbolo dentre aqueles que acreditavam na revolução (armada ou não), ele lutou para dar fim a opressão. Participou de ações importantes para o progresso da resistencia e avanço contra a ditadura no Brasil, um exemplo é a fundação do grupo armado Ação Libertadora Nacional em 1968 e em setembro de 1969, a ALN participa do sequestro do embaixador norte-americano Charles Elbrick, em uma ação conjunta com o Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8).

Para lembrar o legado de Marighella e seus ideais o grupo de rap Racionais MC's compôs a música "Mil Faces De Um Homem Leal"em que além da letra lembrar a história do revolucionário, o clipe relembra o episódio da luta armada em que a Ação Libertadora Nacional (ANL), liderada pelo baiano, invadiu a Rádio Nacional, em São Paulo, e veiculou uma mensagem revolucionária chamando o povo à luta contra o regime. Mostra também a emboscada que matou Carlos Marighella.

Sobre a criatividade

Postado por Mariângela Chagas 19.11.12
Quando a peça Eles não usam black-tie, de Gianfrancesco Guarnieri, foi encenada pela primeira vez em 1958, era a primeira abordagem da realidade brasileira no cenário teatral daquele momento. A peça, cujo enredo mostrava a vida de um simples operário e suas relações com o espaço e as pessoas com quem convivia, debatia questões como a condição humana, a miserabilidade do homem operário daquele período.

A tentativa, nos anos 1960, de fazer uma revolução nacional-democrática ou socialista (o que o professor Marcelo Rindeti chamou de “brasilidade revolucionária”), que permitiria realizar mudanças do ponto de vista da nação. O grande problema, como afirmavam grupos trotskistas da época, era que o Brasil tinha ainda um vínculo muito forte com o latifúndio, ou seja, os grandes fazendeiros não iriam unir-se aos trabalhadores.

O contexto artístico brasileiro naquele tempo sofreu muitas mudanças. Com influências dos movimentos internacionais como a Nouvelle Vague, que inspirou o Cinema Novo. Com a peça de Guarnieri podemos ver que contexto social começava a ser abordado no teatro e no cinema. Na segunda metade dos anos 1960, o tema político começava a ser tratado nas produções como uma tentativa de revelar a situação política do país naquele período.

Em 1968, o Governo decretou o Ato Institucional número 5 como tentativa de frear a criatividade dos artistas, impondo de modo autoritário a censura nas artes em geral (inaugurando os “anos de chumbo” no país). Além da censura nas artes, tivemos as perseguições políticas.

Tivemos, no pós-1968, muitas mudanças no comportamento, nas práticas políticas, urbanas e na cultura, como o surgimento do movimento da Tropicália. Era a forma encontrada de manifestar a insatisfação com a repressão trazida pelo Regime Militar. A juventude daquele período formava-se devido à indústria cultural, o desejo de se rebelar era a principal característica.

Revolução na atualidade. Será possível?

Postado por Gustavo Linhares 19.11.12
Na palestra da última quarta-feira (14), ministrada pelo Doutor em Sociologia Marcelo Ridenti, muito se falou em revolução, principalmente entre os anos 40 e 70, porém, quando se abriu o debate, ligou-se à situação política atual do país e um questionamento foi criado: “Hoje, é possível uma nova revolução?”. E a resposta foi: “A história está viva”.



Falando exclusivamente do governo petista (Lula/Dilma) dos últimos 10 anos, ficou visível a melhoria da vida dos mais necessitados, porém, para muitos, é um ‘governo de migalhas’. Visivelmente carente, o povo se rende a programas como o ‘Bolsa Família’, que distribui R$ 32 por filho às famílias miseráveis. Mas, e aí, se o povo achar isso pouco e cobrar escolas de qualidade para alfabetizarem seus filhos e esses míseros 32 reais passar a ser uma ‘migalha’ para o povo?

Aí entra na discussão o tema das cotas nas universidades federais... Para uns, esse lei é uma forma de mascarar um dos problemas mais graves do Brasil, que é o péssimo ensino público nos níveis fundamental e médio. Outros afirmam que, como a melhoria da educação básica pública é um investimento em longo prazo, as cotas serviam para ‘democratizar’ conhecimento, fazendo que os alunos que antes não conseguiam concorrer em igualdade devido às condições de ensino, possam entrar na faculdade e lá se igualarem aos outros 50% vindos das escolas particulares. Além disso, famílias de classe média podem passar a privilegiar as escolas públicas, produzindo uma demanda na melhoria do ensino.

Mas, como o próprio palestrante citou, “a história está viva”, e, com isso, sujeita a mudanças, que podem vir por meio de novas revoluções. Se perguntarem a mim, partindo dessa realidade do povo se rebelar no Brasil, eu acredito que não, pois eles ainda são muito despolitizados, mas pode acontecer. E as cotas podem ajudar nisso. Estaria o governo dando um tiro no próprio pé? 

domingo, 18 de novembro de 2012

O professor Marcelo Ridenti (à direita) atento as considerações. 
Na última quarta-feira,14, o Centro Dragão do Mar, deu início ao ciclo temático do mês, com o tema "Nós que amávamos tanto a revolução". Incubido de iniciar a programação estava o seminário "A idéia de revolução", do professor paulista Marcelo Ridenti. Nos quase 90 minutos de apresentação, o palestrante, descontraído, conduziu a discussão enfocando no discurso revolucionário que “inflamou” a década de 60, um período marcado por movimentos alternativos em diversas áreas, como na música (Woodstock, Tropicália) e na cultura (A geração “beat”, o feminismo). O professor demonstrou aspectos pertinentes do tema, como por exemplo, a relação entre a cultura e a política, os sentidos que a palavra revolução engloba e as manifestações artísticas, principalmente musicais, que tanto marcaram, e ainda marcam,  nosso cotidiano.

Cartaz do ciclo temático


O EVENTO
A palestra faz parte do Ciclo Temático de Novembro, "Nós que amávamos a revolução", realizado no Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura. Além do seminário, a programação é composta ainda pelo show (“Uma noite em 68”) e pela “Semana Marighella” que de 21 a 23 de novembro movimentará o centro com exposições, lançamento do livro Marighella: o guerrilheiro que incendiou o mundo” e da exibição do documentário sobre o revolucionário .

PERFIL
Marcelo Ridenti – Doutor em sociologia pela Universidade de São Paulo (USP). Professor do Departamento de Sociologia da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Além de Pesquisador do CNPq, autor de livros, entre eles: “Em busca do povo brasileiro: artistas da revolução, do CPC à era da TV”,”Brasilidade Revolucionária” e “O Fantasma da Revolução Brasileira”.

Lucas Reis

Medo e Dita dura

Postado por JAdieL LimA 18.11.12
João Goulart, que foi à China.
Uma fala de Marcelo Ridenti, que me chamou a atenção, na palestra de quarta-feira no Dragão do Mar, foi a de que, no golpe de 1964, não houve resistência por parte do governo. O então presidente João Goulart teria temido algum derramamento de sangue no país. A ideia de medo e ditadura me parecem estar fortemente ligadas. Afinal, ditaduras podem depender do medo que criam. Como também algum medo pode acabar ditando as ações de alguém. 

Como diz o ditado, todos temos algum medo. Nossa cultura nos ensina a ter e cultivar vários medos. Desde as superstições até os reais temores. Medos não necessariamente ruins. Tomar um susto às vezes faz bem. É o caso dos alertas do organismo relacionados à defesa e à sobrevivência, de que me falou Levi, em uma enquete que fiz com ele e mais algumas pessoas sobre medo e ditadura. Mas quando ele nos "deixa impossibilitado de realizar uma tarefa ou qualquer coisa que a gente queira", de acordo Regina, outra entrevistada, ele se torna problemático.

E sobre as ditaduras? Não é coisa do passado. Me disseram que hoje ainda existem várias. A ditadura da beleza, a do consumismo desenfreado, a do individualismo sobre a fraternidade, a ditadura do status, a da tendência a querer ser adorado. Algumas até bobas, mas tão encrostadas e enquadradas no nosso dia-a-dia que muitas vezes nem procuramos ir além delas. Talvez por medo ou por simples conformidade com a situação. Vivemos então "a ditadura daquilo que é sobre o que poderia ser", da qual falou Toinho. 

O perigo é o próprio homem* - No filme: “A Vila”, dirigido por M. Night Shyamalan, a vida de uma pequena aldeia é atormentada pela suposta presença de criaturas míticas, “aqueles que não mencionamos”, que habitam a floresta ao redor do lugar. Juramentos, proibições e crenças preservadas pelos anciões do local acabam isolando o vilarejo da vida exterior. 
Ao indagar sobre medo e ditadura a minha proposta era provocar reflexões sobre o conformismo que presencia nosso cotidiano. Como nos desvencilhar dessa falta de anseio pelas revoluções, já que há tanta coisa pra mudar? Que medos temos que são tão grandes a ponto de nos distanciar de nossas perspectivas de mudança? Claro que não se pode dizer que seja o medo o único fator que mantenha opressões. Mas questioná-lo, enfrentá-lo e desconstruí-lo a partir da confiança nas nossas potencialidades é essencial para exercermos nossa liberdade - externa ou interna, de transformação. Sob susto, é melhor ficar alerta, não paralisado.

"Medo é o que deixa a gente longe da vida" - João Martins

Participantes da enquete sobre medo e ditadura:

-Cainan
-Levi
-Regina e Toinho.

*Comentário de meu pai Ray Lima sobre cena do filme.

Revolução gera Transformação

Postado por Unknown 18.11.12
O Sociólogo Marcelo Ridenti discutiu com estudantes, professores e jornalistas a ideia de Revolução nos anos 60 

O Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura foi palco de uma grande “Revolução” na última quarta-feira, 14. O Seminário “Nós que amávamos a Revolução”, conduzido por Marcelo Ridenti (Doutor em Sociologia), contou com a participação de estudantes universitários, professores, jornalistas e interessados (muitos deles jovens) em entender a relação existente entre cultura e política na revolução dos anos 1960.

Para iniciar a discussão Marcelo Ridenti destacou dois pontos: “A ideia de revolução está meio esquecida” e “o termo revolução pode ter mais de um sentido”. A partir desses pontos o Doutor em Sociologia foi expondo o contexto em que a revolução de 1960 se deu. Ele destacou que o sentido de Revolução utilizado por ele, é o sentido de revolução que leva a “transformação das estruturas de fundo da sociedade”.

Marcelo Ridenti comentou que “a ligação entre cultura e política foi proporcionada pelo partido comunista nos anos 30 a 60”. O partido, influenciado pelas ideologias emergentes na Europa contemporânea, utilizou a cultura, em especial as manifestações artísticas musicais, para propagar suas ideias. A música foi a forma encontrada para expressar o sentimento de descontentamento com a realidade da época.

 Pra não dizer que não falei das flores - Geraldo Vandré (1968)

Diante de tudo que foi discutido no seminário eis que surge uma conclusão: em todo o mundo houve grandes revoluções que até hoje são estudas nas escolas e nas universidades devido à repercussão das transformações que elas proporcionaram para humanidade. A revolução não é ruim, ela é boa se sua finalidade tem de fato um sentido favorável para todo um grupo e não para somente alguns dos membros. A cultura pode ser, sim, um instrumento de revolução se utilizada de forma coerente.

Texto: Jonas Viana
Foto: Lucas Reis

Nem todos amavam a revolução

Postado por Unknown 18.11.12
Os artistas foram os principais atores nas denúncias de em qual situação política estava o Brasil, com shows e festivais que atraiam cada vez mais gente, utilizavam da arte para expor a realidade e chamar pessoas à engrandecerem o movimento pela redemocratização, pois juntos podiam mais. Os festivais de música revelaram compositores e interpretes das canções de protesto. Com o AI-5 (1968), as manifestações artísticas são reprimidas e seus protagonistas, na grande maioria, empurrados para o exílio.

Porém, nem todos estavam assim tão engajados nas questões sociopolíticas do País, haviam grupos que estavam se espelhando na onda do rock’n’roll, com uma forte influência do Rei do Rock e dos lendários Beatles. Era a turma do iê-iê-iê , mais conhecidos como a Jovem Guarda, que cantava o amor e sagas adolescentes açucaradas; algumas das quais, eram versões de hits do rock britânico e norte-americanos da época.

Não por acaso, aparições desses grupos tinham quase sempre espaço nos programas de TV, pois tiravam o foco das canções de festivais, que quase sempre tinham o cunho político e de denúncia, estas, acharam mais espaço nas Rádios. A Jovem Guarda representada principalmente por Roberto Carlos, Erasmo Carlos e Wanderléa, chegou a ter um programa de TV na Rede Record.

Além da música, eles ditaram moda e comportamento. A crítica não perdoava, apontava como alienados e americanizados, a música e as pessoas que se espelhavam nesse movimento, justamente pela ausência de compromisso com o social e pela falta de nacionalidade. Eram rapazes e moças livres, porque? Porque não iam de encontro ao sistema, iam apenas vivendo outros sentimentos. Enquanto jovens estudantes eram fuzilados e caçados, artistas eram exilados, enquanto na televisão, nas telas dos cinemas, exibe-se a brilhante propaganda "Brasil, ame-o ou deixe-o", os jovens da elite tinham outras preocupações, como fala a canção: “Ah!, Meu Carro É Vermelho, / Não Uso Espelho Pra Me Pentear/ Botinha Sem Meia E Só Na Areia Eu Sei Trabalhar/ Cabelo Na Testa, Sou O Dono Da Festa, Pertenço Aos Dez Mais.”

Luciana de Castro Cunha.



A Revolução das Mulheres também chamada de Revolução Feminina, ocorreu entre os anos de 1960 e 1970, ou seja, há mais de 50 anos. Apesar de não ter sido um fato político ou geográfico, foi chamado de “ Revolução” por causa do surgimento da pílula anticoncepcional, considerada um avanço na vida das mulheres.

Se até os anos 50 o método contraceptivo mais usado era a “tabelinha” ( onde as mulheres calculam o período  que estão férteis) ou o coito interrompido ( que consiste em interromper a relação sexual antes da ejaculação), ou seja, métodos não muito seguros, o que ocasionava mulheres com muitos filhos, bem diferente do que se vê nos dias de hoje. Com o surgimento do anticoncepcional, a mulher pôde se prevenir de uma gravidez indesejada com mais eficácia. Com isso, a taxa de fecundidade no Brasil  em 1970 era de 5,8 filhos por casal; em 2007, esse índice despencou para 1,95 filho.  

Com menos filhos, ficou mais fácil para as mulheres investirem em si mesmas, especialmente na carreira profissional, onde tiveram mais tempo para estudar e trabalhar. Esse fato  fez as mulheres conquistarem mais autonomia, mais respeito, mais direitos e mais poder, ou seja, uma “ revolução” na vida do público feminino. 

Além de prevenir a gravidez, a pílula anticoncepcional também melhora a pele e alivia os sintomas da TPM ( Tensão Pré Menstrual), considerada o “terror” para muitas mulheres.
Assim, com o surgimento do anticoncepcional, pode-se dizer que as mulheres ficaram mais independentes e puderam realizar diversos papéis, como o de mãe, filha, esposa, trabalhadora, dona de casa, entre outros, logo proporcionou muito mais do que uma simples Revolução Sexual. 

Com todas essas mudanças, fica fácil entender porque a pílula anticoncepcional é considerada um dos principais fatores da Revolução Feminina, que se estende até os dias atuais. 

By: Márcia Catunda

O dedo na ferida

Postado por Rômulo Costa 18.11.12


Em tempos de Ditadura Militar, a música tomava para si a responsabilidade de denunciar os exageros do Governo e a própria censura a que era submetida. Valendo-se de metáforas, jogos linguísticos e do insuficiente conhecimento artístico dos censores (quase sempre militares descolocados para cumprir essa função), canções de artistas como Geraldo Vandré e Chico Buarque mostravam um Brasil diferente das propagandas oficiais. Hoje, livres do governo repressivo, ainda vivemos com sérios problemas, sobretudo os sócio-econômicos, que resvalam nas desigualdades sociais. Nessa perspectiva, a música ainda tem a importante função de expandir a voz dos oprimidos. Contudo, uma diferença afasta as canções de protesto da atualidade daquelas feitas nos anos 60 e 70: se antes era produzida por uma juventude intelectualizada da elite, hoje ela vem como um grito da classe pobre, feita por gente que sente em si as injustiças da periferia.


"O rap é atitude política", diz Criolo, um dos principais artistas brasileiros do referido gênero. E é como um ato político que os MCs põem em relevo os bastidores de uma comunidade não assistida pelo poder público e, por vezes, "esquecida" pela imprensa. Isso foi evidenciado no caso Pinheirinho, em que a polícia, cumprindo uma ordem judicial de reintegração de posse, agiu com truculência ao expulsar uma população estimada entre 6 a 9 mil pessoas de uma área invadida na região de São José dos Campos, em São Paulo. A imprensa só noticiou o fato depois das cenas de violência circularem na internet, e, ainda assim, não foi provocada a reflexão necessária para o contexto. O rap -- um dos únicos gêneros que ainda trazem questões políticas à música brasileira -- cumpriu seu papel. Emicida -- também vítima de uma desocupação parecida na infância -- emplacou a música Dedo na Ferida, baseada nas atrocidades ocorridas em Pinheirinho. "Alphaville foi invasão, incrimine-os", provoca o rapper em referência a um grande empreendimento imobiliário paulista. Mais adiante, reflete: "Porque a justiça deles só vai em cima de quem usa chinelo?".

No entanto, a proximidade com a produção musical no período da ditadura não ocorre só ideologicamente - sobretudo, na relação opressor-oprimido. Criolo fez uma versão atualizada para Cálice, hino de Gilberto Gil e Chico Buarque contra a censura, gravada em 1978. Na composição do rapper paulistano, a violência urbana é retratada como elemento repressor, além de ser evidenciados o preconceito racial e as desigualdades sócio-econômicas. "A repressão segue meu amigo, Chico", conclui.

É reverberando a voz dos desfavorecidos que o rap cumpre o seu papel. Seja com difusão local ou sob a distribuição eficiente das grandes gravadoras, ele não se dobra, não se alinha. O rap é comercial por sua voz e força, e não pelo puro entretenimento vazio. É envolvente, porque emociona em sua verdade. É popular, pois se aproxima do povo e, assim, respinga na elite, empertigando-a. Não, ele não é doce. Nem pode sê-lo. O rap é, desde a sua origem, o dedo na ferida.


Contexto, pra quê te quero?

Postado por Camila Holanda 18.11.12


Quem nunca usou um versinho de música para dizer um “Eu te amo” de um jeito fofo e “original”? Quem não tem uma trilha sonora para o dia? Nem que seja no som do carro, no fone de ouvido ou no alto falante do celular dentro da 03? E (a melhor de todas) quem nunca postou um trecho no facebook para mandar aqueela indireta?
Nos anos de ditadura militar no Brasil, além dessas funções, a música também servia pra sambar na cara dos militares. Todo mundo já ouviu falar de Cálice (Cale-se?), do Chico Buarque. Mas podemos falar das flores também (Pra não dizer que não falei das flores). Essa produção musical tentava, mesmo que de forma tímida, fazer circular ideais de liberdade.
Mas, lembra da novela América? A música da abertura era Soy loco por ti América. Claro que com um nome desse era mais que apropriada para tal uso – só que não.
O trecho “que su nombre sea Martí” foi pronunciado por Ivete Sangalo de forma que a galera começasse a cantar “que su nombre sea amar-te”. E qual a diferença? José Martí, a quem a música original faz referência, foi o criador do Partido Revolucionário Cubano.  Apenas.
 Já Duas Caras utilizou “E vamos à luta”, do Gonzaguinha, usando a rapaziada “que segue em frente e segura o rojão” para se referir ao povo da Portelinha. Mas em 1980, a intenção do cantor era falar dos movimentos sociais que começavam a ressurgir, tendo como principal representante as Diretas Já.
A questão é que cada música tem seu contexto e quando se descontextualiza, as mensagens nelas inseridas passam despercebidas e perdem seu propósito.
Mas podemos, pelo menos, dar umas risadinhas.


Agora você começa a se perguntar qual a ligação do OiOiOi com a Ditadura...


As origens do amor à TV.

Postado por 01 18.11.12



Não é de hoje que a televisão exerce influência sobre as relações sociais entre os indivíduos. Desde a década de 60, quando a TV ganha destaque no cenário nacional, os comportamentos, as práticas políticas e a cultura do país vão se modificando. Tornando-se o principal veículo de difusão de informações e entretenimento, a televisão passa a construir identidades e impor valores. 

Enquanto Avenida Brasil (2012) mobilizava a população por uma hora em frente à TV, o Programa Silvio Santos (1968) tinha “conteúdo” suficiente para prender a atenção do telespectador durante 6 horas dominicais (de fato, domingo é um dia tedioso). Filmes, telenovelas e programas de auditório deixavam claro o contexto em que o país vivia. Foco no entretenimento. Dá-lhe Circo! Nada de estudantes em imagens. O Brasil é lindo! 

A censura quicava nos meios de comunicação e, certamente, a programação das emissoras tivera de ser modificada e com ela foi-se também a dignidade da televisão. Porém, entre suas brechas, deliciosas metáforas eram construídas e, finalmente, captadas pelo público (Que o digam as canções exibidas nos Festivais pela TV Record e os bordões do Chacrinha.)  

A televisão se tornou a banda que cantava coisas de amor e era este nada menos que um modo de vida despreocupado e alheio ao senso crítico. Firmou-se assim, apesar das poucas alterações durante os anos, uma Televisão brasileira cheia de graça e besteira, formando espectadores bobos e “apaixonados”.

sábado, 17 de novembro de 2012

Ame-o e deixe-o ir aonde quiser

Postado por Breno Reis 17.11.12
"Uma minoria na linha revolucionária correta não é mais uma minoria" (La Chinoise, Jean-Luc Godard, 1967)

Jânio Quadros condecorando Che Guevara com a Grã Cruz da Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul. João Goulart assumindo a presidência após voltar de uma missão diplomática na República Popular da China. No Brasil dos anos 60, o clima de fraternidade com o comunismo arrepiava os cabelos rentes dos militares. A fria guerra entre capitalismo e socialismo adquiria força e tomava grandes proporções no âmbito nacional. Eram tempos de revoluções.
Sem um sentido único, o termo revolução pode ser aplicado tanto ao golpe de 64 como à iminente revolução socialistaou nacional-democráticaque tanto causava temor. De toda forma, revolução é uma transformação radical da vida, e a vida dos brasileiros foi afetada tanto pela repressão do governo militar quanto pela revolução cultural e intelectual dos movimentos de oposição.
A ditadura sustentava-se em motes de um nacionalismo profundo: Ame-o ou deixe-o, Este é um país que vai pra frente. Houve uma retomada da busca pela identidade nacional última, nos moldes daquela que veio sendo formulada por Gilberto Freyre, da formação de um caráter único do Brasil devido à mistura de raças, da noção do Brasil como um gigante adormecido. Para despertar esse gigante, os militares usavam a bandeira nacionalista para pôr em prática seus planos desenvolvimentistas, alinhando-se aos interesses norte-americanos e vindo a alcançar o que chamaram demilagre brasileiro, enquanto censuravam os meios de comunicação e caçavam e torturavam os simpatizantes do comunismo.
Os movimentos revolucionários de oposição ao regime questionavam essa visão paradisíaca do Brasil de Gilberto Freyre. A potencialidade latente da miscigenação não poderia ser desperta naquele panorama ainda predominantemente imperialista e latifundiário dos anos 60. Esses eram os empecilhos que relegavam o país ao status de uma promessa que não se cumpre. Artistas e intelectuais, aliando racionalismo e marxismo, buscavam aproximar-se do povo para juntos realizarem as potencialidades de um povo e de uma nação.
Apesar das perseguições militares, que conseguiram frustrar pelo menos a luta armada e uma revolução política, é relevante a importância cultural desses movimentos. Notável é a novidade musical trazida pela Tropicália, retomando os princípios antropofágicos da Semana de 22 e subvertendo o conceito da política externa militar – de se apropriar da imagética capitalista americana – ao associar as raízes musicais brasileiras com as guitarras elétricas americanas. Soltaram os tigres e os leões nos quintais.