quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Foi-se o tempo do flaneur

Postado por Camila Holanda 27.12.12

No final do século XIX, a imprensa brasileira passou por profundas transformações, acompanhando as mudanças mundiais. Era inaugurado o Jornalismo Moderno, com inovações mecânicas, divisão do trabalho e racionalização de custos. Nesse momento, a informação passa a ser tratada como produto e surge uma linha de produção.

Cena de Tempos Modernos, 1936

Se antes o jornalista por si só decidia o que seria publicado e quando, agora ele cobre a pauta que lhe é proposta. Isso dentro de uma Instituição, inserido numa hierarquia, dentro um horário determinado.  Agora ele é um operário da informação. Nesse contexto de hierarquia-linha-de-produção, surge o profissional especializado: uma pessoa faz a pauta, outra escreve a matéria, outra edita, outra faz a diagramação. Aquela aura romântica do jornalista que passeia pela cidade em busca de uma pauta é substituída pelo perfil industrial.  



E atualmente, o Jornalismo passa por outra transformação: com o advento da internet, das redes sociais e das novas tecnologias, pessoas comuns podem virar notícia, podem fazer um furo de reportagem. Em entrevista cedida às alunas do curso de Comunicação Social da UFC, Isabella Miranda e Camila Holanda, Glauber Filho, que é cineasta formado em Comunicação pela UFC e atual professor da Universidade de Fortaleza, comentou o assunto: “por conta das novas tecnologias, e sem perder o parâmetro para essa análise as redes sociais da internet, onde você produz a informação, você produz conteúdo, você edita, você filma. Você pode fazer tudo, inclusive o próprio Jornalismo sem precisar de uma emissora, sem precisar estar num jornal, impresso ou revista.” Além disso, o professor destaca a latente ideia da interdisciplinaridade e, por causa disso, afirma que os recém-formados devem buscar conhecimentos em diversas áreas.


É comum vermos fatos noticiados em blogs, por exemplo, e irmos confirmar a veracidade da notícia no portal de um grande jornal (às vezes o próprio blogueiro faz esse link). Além disso, é comum ouvirmos expressões como “aconteceu mesmo, saiu no jornal!”. Tais costumes expressam a importância do papel do jornalismo bem produzido na sociedade. E, por isso, o jornalista, nesse contexto das redes sociais, deve reafirmar seu caráter de fonte de informação confiável, com credibilidade.


quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Cronograma de postagens

Postado por Naia 26.12.12
Olá, turma, 

Segue o calendário das postagens de vcs. 

ATENÇÃO  - Quem faltou à aula ou no caso de não haver aula no dia definido para sua postagem, por favor, faça a postagem sobre a aula subsequente. 

26/11 - Ana Maria e Thiago Matos
28/11 - Ana Paula e Thalita
03/12 - Anderson Cid e Rômulo
05/12 - Breno e Raquel
10/12 - Bruna e Nyara
12/12 - Bruno e Nathanael
17/12 - Camila e Marina
19/12 - Camila Magalhães e Mariângela
02/01 - Camilo e Isabella
07/01 - Crisneive e Márcia
09/01 - David Lino e Luciana
14/01 - Drielle e Lucas Reis
16/01 - Eduardo e Luana
21/01 - Falkner e Lia
23/01 - Gustavo e Jonas
28/01 - Hélio e João Paulo
30/01 - Jadiel 

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Jornalismo em uma era capitalista

Postado por Unknown 24.12.12


  No Brasil do século XIX, com a chegada do Rei D. João VI e a família real portuguesa, surgiu o primeiro ensaio da imprensa brasileira. Não como a conhecemos hoje, obviamente, mas ainda há alguns resquícios do jornalismo praticado na época.
  
  As tipografias só foram autorizadas no Brasil após a chegada da família real em 1808. Antes, elas eram proibidas na colônia, pois não era conveniente para o reino português a disseminação de ideias e influências estrangeiras, não na sua mais preciosa colônia.
  
  O caráter dos jornais e folhetins da época era mais opinativo, ideológico e partidário do que propriamente informativo – o que é o caso do jornalismo moderno -, favorecido pelo clima do Brasil monárquico.
  
  A época da independência do Brasil (1821-1822) foi o período em que o país foi inundado com jornais de cunho ideológico, com cada um defendendo um ponto de vista a cerca do futuro da nação.
  
  Por volta de 1880, o jornalismo começa a ganhar um aspecto mais industrial e comercial. Como advento do capitalismo e da república, no Brasil, a informação passou a ser considerada um produto, que possui custo e lucro, e os leitores passaram a ser considerados consumidores.

   Outras características que o jornalismo e os jornais ganharam são o caráter objetivo e imparcial da informação, não por motivos ideológicos ou democráticos, mas sim por um maior alcance de público.
  
  A publicidade e o marketing passaram a ganhar cada vez mais espaço nos veículos de comunicação, sendo grande parte do lucro de jornais e revistas advindo desses espaços reservados para propaganda. Muitas vezes, esses locais podem ocupar um tamanho maior do que uma matéria de jornal e não é incomum, em uma revista, existir uma página inteira de propaganda.
  
  O design gráfico e editorial de um veículo - as melhores fotos, a disposição das matérias, as palavras escolhidas para compor o texto - é pensado nos parâmetros de mercado: o mais bonito e original vende mais. Não que a simplicidade e a clareza tenham sido descartadas, mas até mesmo esses critérios são pensados com objetivos visando o lucro.

  Não devemos pensar, entretanto, que com o capitalismo e a indústria, o jornalismo perdeu essa linha ideológica que marcou tanto o seu começo no início do século XIX. Há outras maneiras dos veículos de comunicação demonstrar a sua ideologia ou suas preferências partidárias de uma maneira não tão explicita quanto era feita antes.
  
  Entretanto, o jornalismo, apesar de sua veia capitalista, industrial e comercial, não deve ser considerado apenas como mais uma máquina de fazer dinheiro. O jornalismo, e o jornalista, ainda devem ser comprometidos com o seu objetivo primordial: o de divulgar os fatos e a verdade para os cidadãos.

Jornalismo e a modernidade

Postado por Mariângela Chagas 24.12.12

Com a transição do regime monárquico para a república, o espírito de nação, ou seja, da construção coletiva tomou conta dos jornais que surgiram no período. Um dos grandes nomes da época era o Jornal do Brasil, fundado em 1891, cujos preceitos atendiam aos sentimentos republicanos, em que o jornal era o porta-voz da sociedade.

O jornalismo atual funda-se no conceito da individualidade, sem aquela preocupação de outrora com a construção de um sentimento de nação e sim se preocupando com o público - agora visto como consumidor – através da personalização do discurso. Sabendo de suas preferências, passou-se a definir o conteúdo da publicação (as pesquisas de marketing nunca foram tão importantes). Ligado a este fato estão as modernizações técnicas ocorridas no âmbito da imprensa.

Foi assim desde o surgimento das técnicas de imprensa – difundidas na Europa por Johannes Gutenberg em 1450 -, possibilitando a mercantilização da informação (no caso, o surgimento da imprensa viabilizou a difusão da informação, porque as casas de impressão eram relativamente livres do poder político e da Igreja vigentes na época).

No caso atual, a notícia tornou-se mais curta e disputa espaço com a imagem. Os layouts das páginas são feitos e refeitos ao longo dos anos para chamar atenção, agradar o leitor. Com o advento da informação, muitos meios de comunicação tiveram que se adaptar e viabilizar seu conteúdo para as novas plataformas.

Além das transformações técnicas, houve os processos de especializações, surgidos no começo do século XX. Enquanto nos primeiros jornais uma só pessoa era responsável por realizar várias funções – hoje, temos várias ramificações das funções no ambiente da redação. A profissionalização proveio das largas demandas e do surgimento dos meios de comunicações modernos.

O jornalismo, outrora, um trabalho meio boêmio, agora é um meio que produz capital. O jornalista, hoje, está atento ao público consumidor e as suas preferências, deixa de ser um “romântico” para ser um empregado da informação.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

A transformação do jornalismo no século XX

Postado por Unknown 17.12.12

A modernização do jornalismo aconteceu entre o final do século XIX e início do século XX. O avanço do sistema capitalista e suas consequências colaboraram à expansão da profissão, principalmente devido o processo de urbanização, que intensificou o crescimento das cidades.

No século XX o jornalismo se expandiu, transformando-se em um negócio lucrativo. Esse princípio mercadológico fez com que as notícias virassem produtos, mudando o formato de opinativas para informativas. Desde então, o jornalismo de massa está de acordo com os interesses do capitalismo.

Sem deixar de lado o discurso político, o jornalismo passou a incorporar outros assuntos e também a explorar novos gêneros textuais, como notas, reportagens, entrevistas e crônicas. A partir daí, surgiram as editorias especializadas em temas e abordagens específicas como notícias policiais e regionais.

Nelson Traquina, em seu livro O estudo do jornalismo no século XX diz: “O impacto tecnológico marcou o jornalismo do século XIX como iria marcar toda a história do jornalismo ao longo do século XX até o presente, apertando cada vez mais a pressão das horas de fechamento, permitindo a realização de um valor central da cultura jornalística – o imediatismo”.

O trecho resume bem a transformação do jornalismo em instituição financeira. Cada segundo as pessoas são bombardeadas de matérias. Os repórteres tem que atender aos interesses dos veículos em que trabalham. A única forma de haver jornalismo livre é sendo independente de qualquer vínculo político e/ou empregatício com uma empresa de comunicação, como alguns jornalistas que fazem suas reportagens investigativas sozinhos e publicam em seus blogs ou em sites que recebem doações para se manterem.


segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Atos d'O Apóstolo

Postado por Breno Reis 10.12.12
 Com o incremento econômico e urbanístico, a imprensa estava entrando em sua segunda fase. O surgimento do telégrafo e das ferrovias tornou possível uma imprensa mais rápida e moderna e um jornalismo industrial/empresarial, com jornalistas menos vinculados à literatura e compromissados com o jornalismo em sua essência.

Naquela época, dois tipos de jornalismo conviviam na imprensa: o jornalismo industrial, comercial e lucrativo que surgia; e o jornalismo radical e opinativo.

Após um arrefecimento do movimento abolicionista no início da década de 1880, – particularmente devido à ação dos escravocratas e à defesa de um processo lento e gradual sustentado pela Lei do Ventre Livre – a partir de 1883, a Questão Servil voltou a ser tema de constante debate na imprensa.

Com a Questão Servil em voga, os jornais daquela época posicionavam-se fervorosamente acerca do tema, tanto os abolicionistas quanto os escravocratas, propiciando a defesa de diferentes modelos de nação. 

 Dentre os jornais favoráveis à emancipação, destacava-se o jornal católico O Apóstolo. O jornal empenhava-se agressivamente no combate aos “inimigos da Igreja” (“protestantes, maçons, espíritas, livres-pensadores, positivistas”). Alinhando-se ao emancipacionismo defendido pela Igreja Católica, O Apóstolo publicava incessantemente notícias de concessões de alforrias, consideradas pelo jornal uma caridade dos senhores, que deveria servir de exemplo para outros. Essa caridade suscitaria nos escravos libertos um sentimento de gratidão, que os manteria presos à propriedade, como mão-de-obra barata, não havendo necessidade de contratar estrangeiros – considerados inimigos da Igreja – como mão-de-obra livre.

O Apóstolo exaltava a participação do clero na libertação dos escravos no Ceará e teve bastante importância na noticiação do processo emancipacionista no estado, motivado pela Grande Seca, quando os senhores tiveram de vender seus escravos para conseguir capital, e que culminou com a corajosa ação do Dragão do Mar.


(Versões pdf de exemplares d'O Apóstolo, de 1866 a 1901, estão disponíveis na Hemeroteca Digital Brasileira).

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Os mestres dos mares

Postado por Rômulo Costa 7.12.12

No final do século XIX, o Ceará vivia uma intensa seca, que findou por desorganizar a já pequena produção agrícola da província. A fome causada pela estiagem e a epidemia de varíola que matou mais de um quarto da população provocaram um intenso comércio interprovincial de escravos. O destino era, principalmente, o sudeste, sendo o Porto do Mucuripe a única maneira de escoá-los para essa região do País. Nesse período, surge a figura mais representativa da libertação escravista no Ceará, Francisco José do Nascimento, o Dragão do Mar.

Filho de um pescador e uma rendeira, Chico da Matilde, como era conhecido, sempre teve sua vida ligada ao litoral. Exímio jangadeiro, tornou-se chefe dos condutores de jangadas e botes das praias cearenses, além de trabalhar um período como marinheiro e, anos depois, ser nomeado prático da Capitania dos Portos. Mulato e testemunhando o intenso tráfico de escravos no porto fortalezense, liderou o movimento de jangadeiros que se recusavam a transportar os negros até os navios ali aportados. Com o único porto da província sendo fechado pelos manifestantes, os donos de escravos se viram obrigados a libertá-los, pois a estiagem não os dava a possibilidade de mantê-los. O movimento contribuiu para a abolição da escravidão na província cearense, fato pioneiro no Brasil.

Dragão do Mar é mais um exemplo de liderança popular que se insurgiu contra atitudes exageradas do poder elitista e repressor. Na história do Brasil, outras personalidades de origem humilde assumiram a linha de frente contra os excessos dos poderosos. Como João Cândido, líder da revolta dos marinheiros 1910, cuja reivindicação era a fim dos castigos físicos por parte dos oficiais. O Almirante Negro, como a imprensa o chamou à época, era filho de escravos e viu no serviço militar a oportunidade para ascender socialmente. Ainda adolescente, alistou-se na Marinha e por lá passou 15 anos de sua vida, chegando a viajar à Grã-Bretanha para acompanhar o processo de construção de alguns navios encomendados pelo Governo brasileiro. Foi lá que teve conhecimento de uma reivindicação dos russos para melhores condições de trabalho e alimentação. De volta ao Brasil, ele e outros colegas, indignados com a intensa agressividade dos oficiais, pediram formalmente que fosse cumprida a lei que proibia o uso de chibatas como castigo. Sem resultado, tomaram pose de diversos navios da Marinha de Guerra do Brasil e direcionaram os seus canhões para a capital da República. Descumprindo a promessa de anistia dos envolvidos e prometendo extinguir o uso de agressões físicas, a Revolta da Chibata teve fim com a prisão de todos os envolvidos presos, inclusive, João Cândido, que, além de passar dois anos encarcerado, foi perseguido pela Marinha por toda a vida.

O Almirante Negro -- ao contrário de Dragão do Mar, que fora afastado de seu trabalho na Capitania dos Portos, mas o restabeleceu com promoção, à pedido do Imperador -- findou a vida na miséria e sem prestígio. Uma das primeiras menções a João Cândido como herói surge apenas na década de 1970, quando Aldir Blanc e João Bosco fazem referência ao marinheiro no samba Mestre-Sala dos Mares. Na canção, contam a história do "navegante negro", troca de nome imposta pela censura que alegou não haver almirantes negros na Marinha Brasileira. Nela, João Cândido é retratado como um novo Dragão do Mar.

Certamente, os dois têm muito em comum. Descendentes de escravos, filhos do mar, sub-julgados por uma poder opressor e elitista. Coragem de um povo que luta, reivindica e não dobra aos desejos de quem detém o poder. Assim como Chico da Matilde e João Cândido, outras pessoas com história parecida tentaram melhorar a sua condição através da luta. A eles, devemos o reconhecimento histórico e o incentivo para que as transformações sociais por eles almejadas não se percam.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012





"Meu ideal seria escrever uma história tão engraçada que aquela moça que está doente naquela casa cinzenta quando lesse minha história no jornal risse, risse tanto que chegasse a chorar e dissesse -- "ai meu Deus, que história mais engraçada!". E então a contasse para a cozinheira e telefonasse para duas ou três amigas para contar a história; e todos a quem ela contasse rissem muito e ficassem alegremente espantados de vê-la tão alegre. Ah, que minha história fosse como um raio de sol, irresistivelmente louro, quente, vivo, em sua vida de moça reclusa, enlutada, doente. Que ela mesma ficasse admirada ouvindo o próprio riso, e depois repetisse para si própria -- "mas essa história é mesmo muito engraçada!" (...) E quando todos me perguntassem -- "mas de onde é que você tirou essa história?" -- eu responderia que ela não é minha, que eu a ouvi por acaso na rua, de um desconhecido que a contava a outro desconhecido, e que por sinal começara a contar assim: "Ontem ouvi um sujeito contar uma história...".
                                                     - Rubem Braga, escritor, um dos maiores cronistas brasileiros.


"Eu amo a rua (...) Nós somos irmãos, nós nos sentimos parecidos e iguais; nas cidades,
nas aldeias, nos povoados, não porque soframos, com a dor e os desprazeres, a lei e a polícia, mas porque nos une, nivela e agremia o amor da rua (...) Ora a rua é um fator da vida das cidades, a rua tem alma!". 
                                                        - João do Rio, jornalista, cronista, tradutor e teatrólogo brasileiro.





Logo quando iniciamos nossos estudos no campo do jornalismo, entendemos que o jornalista é um imediatista, um instantaneísta. O espaço do jornal custa tempo e dinheiro, desta forma, o profissional se utiliza de técnicas como a do lead, a objetividade, a pirâmide invertida a fim de abordar o que é importante e comercializar as notícias. Outro ponto relevante nesta analise é o de fato jornalístico. O fato jornalístico, como entende Prof. José Coelho Sobrinho, é um encadeamento de ações que se relacionam e interagem entre si: “O fato para o jornalismo é uma informação escolhida intencionalmente pelo jornalista por ser de interesse de seu público”. Em suma, a matéria gira em todo dos fatos. O dito Jornalismo Literário vem romper com esse ideário, foge do noticiário superficial, revela um universo que geralmente fica oculto nas entrelinhas das matérias cotidianas. Certa vez, em conversa com a jornalista Ethel de Paula, a atração do dito Novo Jornalismo seria adentrar mais na vida das pessoas, dos sujeitos a cima dos fatos, os textos mais longos e descritivos, além da poética eminente e a humanização do fazer jornalístico. 

É fato que a  Literatura ronda a cabeça de muita gente, dá ideias e causa uma excitação para fazer com que a palavra e o pensamento fluam, rompendo com as amarras do lead e fugindo do hard news. Porém o gênero trás algumas dificuldades, por confusões disseminadas por autores, escritores e pelo meio acadêmico sobre o que seja uma crônica e o que é um texto de jornalismo literário. O “novo jornalismo” passa a ser utilizado para designar a narrativa jornalística que utiliza técnicas literárias. Além da própria estrutura do texto, outro ponto discutido neste gênero é o da realidade e da ficção. Romper com a forma clássica ou criar personagens e ficção para explicar um caso ao leitor ainda é algo arriscado para um jovem jornalista, O Truman Capote pode, o Gabriel Garcia Marquez também, mas eles já têm nome para isso. O leitor já vai ler sabendo o que esperar daquele texto. Entretanto, a crônica jornalistica é sim essêncial ,  “Em uma sociedade pós-moderna e de informação, bombardeada a cada minuto por notícias boas e ruins; por guerras e acidentes; terremotos e tsunamis, a crônica deve servir de respiro, de um momento de reflexão e diversão para o público leitor e internauta, já que ela é rara no rádio e na televisão. É para isso que ela serve!”, afirma o professor e jornalista Luiz Roberto Saviani Rey.
 
Historicamente falando, A partir do séc. XIX, a aproximação entre literatura e jornalismo torna-se mais evidente. Nesta época, o realismo social  passa a captar – a partir da observação e da recriação detalhada do cotidiano – os costumes e a linguagem das ruas e trazê-los para o campo da ficção, a exemplo de Charles Dickens e Émile Zola. Jack London e George Orwell, por exemplo, no início do séc. XX, se reinventaram como personagens da classe pobre para viver entre sem-tetos e desafortunados, transformando suas experiências em reportagem e relato autobiográfico, respectivamente.

No Brasil, haverá o rompimento com jornalismo puramente político e o gênero literário vai se fundir com os fatos da cidade e os posicionamentos ideológicos.  Em 1852, Manoel Antônio de Almeida publica “Memórias de um sargento de milícias” nas páginas do correio mercantil, com estilo jornalístico, incorpora a linguagem das ruas, fugindo da tendência romântica da época de retratar os ambientes aristocráticos.  Incorporou o formato de folhetim, popularizado em jornais da capital do império, aportado por aqui como um dos itens da última moda em Paris. O romance urbano “A Moreninha” de Joaquim Manuel de Macedo é considerado o exemplo de folhetim mais popular da história do Brasil, tendo sido sucesso de vendas numa época em que a maioria da população do país ainda era analfabeta. O clima de suspense em que o estilo folhetinesco apostava é característica utilizada ainda atualmente em novelas. Outros escritores brasileiros como Lima Barreto, Machado de Assis, e o cearense José de Alencar tiveram obras suas publicadas em folhetins para depois serem editadas em livros. 

O crescimento da imprensa fortalezense, no século XIX, acompanhou o processo de desenvolvimento do jornalismo brasileiro tanto no aspecto cronológico, quanto nas estruturas de organização e sustentação. A divulgação de matéria literária constituiu-se de uma tradição junto à imprensa cearense, especialmente nos jornais diários que, desde cedo, dedicaram algum espaço em suas páginas para apresentar trechos de obras literárias, por meio da seção "Folhetim". Em 1816, possivelmente já circulavam as “folhas” ou “folhetos”, dos quais hoje quase não há registros. Esta seção, no entanto, destinava-se, essencialmente, a divulgar os escritos de autores estrangeiros ou de renomados escritores brasileiros; ou seja, os "clássicos" da literatura. Foi somente a partir do final da década de setenta que passou a desenvolver-se um jornalismo essencialmente vinculado à divulgação literária. Começaram a surgir agremiações, com o intuito de promover a fermentação de ideias, a produção artística e a formação de um público leitor. O estudioso Leonardo Mota datou 37 sociedades intelectuais que surgiram entre os anos de 1870 e 1900 no Ceará. Em 1892, a capital cearense foi sacudida por bulhenta novidade literária por meio das reuniões de um grupo de rapazes que se encontravam nas mesas do Café Java, um quiosque que ficava no centro de Fortaleza, para falar de literatura, nasceria então a famosa Padaria Espiritual. Além de colaborar para a consolidação das Letras no Ceará, esse movimento permitiu uma maior popularização da incipiente literatura local e regional. O jornal “O pão” serviu como instrumento de intervenção destes na realidade social cearense com a intenção de modificá-la. Através de suas publicações os padeiros sentiram-se capazes de criticar; apontar direções e; em muitos casos; modificar a realidade social em que viviam.

Mais à frente, sem mais delongas, não poderia esquecer-me da época dos grandes ensaios, do jornalismo boêmio de mesa de bar; da observação dos arquétipos sociais; do amor pela rua descrito por João do Rio; das crônicas de Nelson Rodrigues, Rubem Braga, Carlos Heitor Cony e tantos outros Jornalistas que beberam desta fonte inesgotáve, em que fluem ficções, realidades, gente, arte, histórias, política e embelezamento. A crônica, tido por muitos como um gênero genuinamente brasileiro, está  ali nas fronteiras longíquas da literatura, onde os gêneros se esfumaçam. Nessa visão embaçada é que as linhas do Jornalismo Literário é escrito com punho forte. 





Thalita Moura Vieira.