quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Indignados, porém Instigados!

Postado por JAdieL LimA 13.2.13
Passei esse carnaval com preguiça, na morgação internético-facebookiana. Mas hoje resolvi escrever e, naturalmente, me postar contra a tudo o que faço normalmente numa semana como a do carnaval. Ou seja, ao nada. Não há muita coisa mais enlouquecedora do que o tédio. Resolvi tentar sair dessa, mesmo, foi pela vergonha que tive de estar em plena virilidade, em perfeitas e invejáveis condições físicas e, sobretudo, estéticas; porém não estar lendo ou produzindo tanta coisa quanto deveria ou gostaria, como (penso eu) era o caso da galera do Pasquim.

1969. Tarso de Castro, Jaguar, Sérgio Cabral, Luiz Carlos, Millôr, Claudius, dentre outros sentiam a necessidade de um outro jornal que compensasse a perda do tablóide humorístico A Carapuça, do recém-falecido Sérgio Porto. Como de prevenção às críticas repressoras, Jaguar sugere o nome ‘Pasquim’, fazendo remissão aos pasquins – do italiano, paschino, jornais ou panfletos difamadores. E pegou...

As edições normalmente faziam uma mistura bem simples entre humor, ironias, com uma entrevista como matéria principal, muita ilustração, textos curtos e frases polissêmicas. O sucesso foi tão grande que se chegou a vender 250 mil exemplares, algo quase absurdo pra um tabloide daquela época.

Assim como no caso das principais produções musicais, teatrais e poéticas daquele momento, expressar visões de liberdade, de pensamentos mais embasados e críticos e contra a própria ditadura era algo muito difícil e arriscado. "Quem tem jornal tem medo", como se dizia no próprio Pasquim. Mas tanto através dos textos e piadas como por meio do humor gráfico (nas charges e cartuns de Jaguar, Millôr Fernandes, Claudius, Ziraldo, Miguel Paiva, Henfil e de mais um monte de gente boa), O Pasquim conseguiu achar meios de driblar a Censura.
A linguagem bem elaborada de personagens como os Fradinhos de Henfil; do ratinho Sig, de Jaguar, fazendo intermediações nos outros textos; as tiras do Ziraldo, os cartuns e criações multitextuais do Millôr, que fazia de tudo; (sim, ia me esquecendo de fechar a frase inicial) a linguagem bem elaborada deles conseguia passar pela censura como se fosse um código estabelecido entre O Pasquim e os leitores. A censura não era muito inteligente.

Falando a verdade, a maioria dos censores gostava muito tanto do jornal quanto de quem produzia, mas tinham que sustentar a família. Muitos eram demitidos. Eram, de certo modo, obrigados a estar ali fazendo aquele trabalho de “anti-criação”.

Às vezes foi bem difícil e trabalhoso contornar a repressão, sendo que era necessário produzir muito mais material do que o que era aceito para ser publicado. O tabloide já incomodava. Em uma dessas vezes foi-se “longe demais”. Jaguar pegou a pintura do Grito da Independência e pôs um balãozinho no D. Pedro: “Eu quero mocotó!!”, se referindo ao sucesso de uma música do Jorge Ben Jor. Metade da equipe ficou em cana por dois meses. “Uma coisa é certa: lá dentro deve estar muito mais engraçado que aqui fora”, dizia a frase publicada numa edição remanescente.


Todos aqueles obstáculos da censura, da falta de liberdade, serviram para instigá-los a exercitar suas criatividades e suas visões, enfim, suas genialidades. “O humor é extremamente transformador. O humor é uma linguagem subversiva por si só. Ele vai sempre descobrir uma maneira de pular aquele muro que construíram pela frente. Não há maior alimento e incentivo ao humor que a censura", fala Miguel Paiva no documentário "O Pasquim - A subversão do humor"da TV Câmara.

O Jornal durou até a década de 90, sendo editado por um período apenas pelo Jaguar. Ziraldo retomou com edições especiais nos anos 2000 e ainda teve a Revista BUNDAS, que era naquele estilo despojado e com contribuição de grandes mestres do tabloide antecessor. O Pasquim influenciou a imprensa, a publicidade e os costumes de todo o Brasil. Além disso, foi responsável por espalhar diversos artistas gráficos pelo país, influenciando os humores de várias regiões.

Nada foi fácil. Afinal não dava mesmo pra ganhar muito dinheiro, mesmo com todo o sucesso. Então, fico pensando de novo na minha condição tediosa e no cenário de produção de humor gráfico no Brasil. Será que, porque não temos uma ditadura governamental, não temos motivos para nos instigar? A indignação mais recente que vi foi a do Diego Sanchez e da galera da página dos Quadrinhos Insones (que por acaso são ótimos) com a 'censura' do Facebook para imagens de conteúdo inadequado para menores de 18. Mas, mesmo que a restrição não seja válida, esse é o grande problema?

Acho até que o principal problema não é mais o de liberdade de expressão, comparando-se com o que já passou. O problema não está mais no dizer, mas sim na ação e na atitude do qual esse dizer vem acompanhado. E isso daí não se refere a um dizer individual. Ou, aliás, se refere sim: vai da atitude pessoal em relação às situações problemáticas individuais e sociais. Portanto, que eu me instigue, que nós nos instiguemos, sem tanto mimimi.


Taí as fontes:















http://maisquadrinhos.blogspot.com.br/2009/06/os-40-anos-do-pasquim.html
http://midiaalternativabypc.blogspot.com.br/2007/05/sobre-o-pasquim.html

http://historiaemprojetos.blogspot.com.br/2008/04/1969-nasce-o-pasquim.html

http://hqmaniacs.uol.com.br/principal.asp?acao=materias&cod_materia=562