sábado, 17 de novembro de 2012

Ame-o e deixe-o ir aonde quiser

Postado por Breno Reis 17.11.12
"Uma minoria na linha revolucionária correta não é mais uma minoria" (La Chinoise, Jean-Luc Godard, 1967)

Jânio Quadros condecorando Che Guevara com a Grã Cruz da Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul. João Goulart assumindo a presidência após voltar de uma missão diplomática na República Popular da China. No Brasil dos anos 60, o clima de fraternidade com o comunismo arrepiava os cabelos rentes dos militares. A fria guerra entre capitalismo e socialismo adquiria força e tomava grandes proporções no âmbito nacional. Eram tempos de revoluções.
Sem um sentido único, o termo revolução pode ser aplicado tanto ao golpe de 64 como à iminente revolução socialistaou nacional-democráticaque tanto causava temor. De toda forma, revolução é uma transformação radical da vida, e a vida dos brasileiros foi afetada tanto pela repressão do governo militar quanto pela revolução cultural e intelectual dos movimentos de oposição.
A ditadura sustentava-se em motes de um nacionalismo profundo: Ame-o ou deixe-o, Este é um país que vai pra frente. Houve uma retomada da busca pela identidade nacional última, nos moldes daquela que veio sendo formulada por Gilberto Freyre, da formação de um caráter único do Brasil devido à mistura de raças, da noção do Brasil como um gigante adormecido. Para despertar esse gigante, os militares usavam a bandeira nacionalista para pôr em prática seus planos desenvolvimentistas, alinhando-se aos interesses norte-americanos e vindo a alcançar o que chamaram demilagre brasileiro, enquanto censuravam os meios de comunicação e caçavam e torturavam os simpatizantes do comunismo.
Os movimentos revolucionários de oposição ao regime questionavam essa visão paradisíaca do Brasil de Gilberto Freyre. A potencialidade latente da miscigenação não poderia ser desperta naquele panorama ainda predominantemente imperialista e latifundiário dos anos 60. Esses eram os empecilhos que relegavam o país ao status de uma promessa que não se cumpre. Artistas e intelectuais, aliando racionalismo e marxismo, buscavam aproximar-se do povo para juntos realizarem as potencialidades de um povo e de uma nação.
Apesar das perseguições militares, que conseguiram frustrar pelo menos a luta armada e uma revolução política, é relevante a importância cultural desses movimentos. Notável é a novidade musical trazida pela Tropicália, retomando os princípios antropofágicos da Semana de 22 e subvertendo o conceito da política externa militar – de se apropriar da imagética capitalista americana – ao associar as raízes musicais brasileiras com as guitarras elétricas americanas. Soltaram os tigres e os leões nos quintais.

Comentários