O ano era 1824 e D. Pedro I era o cara. Literalmente. O
Brasil tinha acabado de declarar sua independência e o contexto
histórico-político desse ano era a elaboração da primeira Carta Magna
brasileira que, após períodos conturbados durante sua produção, foi outorgada
pelo imperador.
O fato de ter sido uma Constituição imposta por D. Pedro I
reflete o autoritarismo que reinava na sociedade e que era reafirmado pelo
próprio texto constitucional, afinal, o poder Moderador era a pura expressão da
autoridade impositiva e por vezes ditatorial que interferia em cada aspecto da ex-colônia, desde a nomeação de funcionários públicos, párocos, até
quais seriam os ditames do Vaticano aceitos pelo Brasil.
Em quase 200 anos, o Brasil mudou e evoluiu
consideravelmente, deixou de ser uma monarquia e virou república, passou por
décadas sob o poder da ditadura militar e depois se redemocratizou. Mesmo
assim, um dos traços marcantes da sociedade brasileira de dois séculos atrás
ainda perdura: o caráter elitista dessa sociedade valorizadora do poder
econômico e de quem o detém.
A influência capitalista é tão incisiva que atinge
praticamente todos os aspectos da vida social e o jornalismo não escapa desse
alvo. Até porque quem produz jornalismo são empresas de comunicação que possuem
interesses e ideologias próprias. Por mais que a “imparcialidade” e a “objetividade”
sejam tão aclamadas, é praticamente impossível não deixar vestígios ideológicos
em qualquer produto jornalístico, por mais objetivo que ele possa parecer.
E falando em poder econômico e uma (im)possível
imparcialidade, como não lembrar o acidente de carro envolvendo o filho do
ex-deputado Ciro Gomes e sobrinho do atual governador do Ceará, Cid Gomes? Desse
caso podemos perceber duas coisas: a primeira é que a valorização de quem tem “dinheiro”
proporciona a estas pessoas o pensamento de que são acima da lei e de qualquer
autoridade e, por conta disso, podem tentar burlar essas leis por meio de
suborno (mesmo que a quantia seja irrisória, o que vale é a intenção).
A segunda é o destaque (ou não) que foi dado ao fato em diversos portais da Internet. Desse ponto, deve ficar apenas a reflexão da abordagem que os veículos jornalísticos dão ao mesmo fato, abordagem essa estreitamente relacionada à ideologia e também ao grau de relacionamento da empresa de comunicação com os envolvidos em acontecimentos como esse. Tire suas conclusões.

